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Tuesday, September 17, 2013

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Reflexão para a construção da identidade do educador museal dentro de um museu plurivocal

Oliveira, Genoveva (2013). “Reflexão para a construção da identidade do educador museal dentro de um museu plurivocal”. Revista Museu. ISSN 1981 6332.http://www.revistamuseu.com.br/artigos/art_.asp?id=37427. 08 de agosto de 2013

Genoveva Oliveira, Historiadora. . . < A r t i g o s > .
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Genoveva Oliveira > .
Historiadora

- Reflexão para a construção da identidade do educador museal dentro de um museu plurivocal -

Genoveva Oliveira [i]
Palavras-chave:Museus e educação, mediação, comunicação
Introdução
          As colecções dos três museus estudados por nós na tese de Doutoramento, Museu Serralves (Porto, Portugal), CAM da Gulbenkian (Lisboa, Portugal) e Museu Colecção Berardo (Lisboa, Portugal) têm crescido com a implantação de uma política de exposições colectivas, mas também individuais de grande dimensão, direccionadas para a experiência de novas linguagens e de novos meios servindo de exemplo e de inspiração para outros espaços museológicos a nível nacional. Tendo objectivos diferentes, mas complementares, os três museus procuram algo semelhante através da sua política educativa: colocarem o museu na vanguarda do debate artístico, a nível nacional e internacional, procurando diversas possibilidades de percursos e leituras pela arte moderna e contemporânea. Os Museus realizam também diversas exposições temporárias, com obras de artistas nacionais e estrangeiros, emergentes e consagrados, que não pertencem ao seu acervo. Tornam-se, assim, um espaço de experimentação, de surgimento e discussão de novas tendências e novos caminhos para a arte contemporânea, sendo exemplos seguidos a nível nacional por outras instituições museológicas. Como tal, consideramos que a questão colocada aos educadores e às coordenadoras sobre a definição do conceito do técnico responsável pela educação museal ou mediação sobre a prática dentro dos serviços educativos fazia sentido dentro do projecto de investigação.
Metodologia
Considerações gerais sobre o estudo apresentado

O estudo realizado para este artigo baseou-se em primeiro lugar em revisões bibliográficas como um material fundamental assente na análise e interpretação. O tratamento metodológico dos documentos que se observa neste artigo reporta à mediação em museus. Foi igualmente objecto do nosso estudo de doutoramento [1] retratar o testemunho dos educadores museais, das coordenadoras dos departamentos de educação dos museus seleccionados (Museu da Fundação Serralves, Porto; Museu Colecção Berardo, Lisboa e CAM da Gulbenkian, Lisboa, os três em Portugal) e docentes até ao ensino secundário da zona centro de Portugal.
Foram entrevistados trinta e seis educadores, trinta e seis docentes e três coordenadoras em 2009 no estudo alargado de tese de doutoramento defendida em 2012. As entrevistas tiveram um guião para que o trabalho entre investigador e o entrevistado tivesse uma linha condutora, mas dando a possibilidade das pessoas exprimirem livremente e abertamente as suas opiniões. Consideramos que para este artigo específico nos deveríamos focalizar unicamente na questão sobre a definição do conceito de educador museal ou mediador e no testemunho dos educadores museais e das coordenadoras.
Todos os entrevistados são licenciados e têm formações académicas diversas, alguns com múltiplas especializações. A diversidade da formação académica permite que os três museus estudados se possam empenhar numa variedade de actividades associando as ciências sociais e humanas, as novas tecnologias, as ciências exactas e as artes.
Discussão à volta da definição do conceito do educador museal
Mediador é o conceito que dezanove educadores consideram ser o mais apropriado para a profissão que desenvolvem. Oito referem o conceito de educador museal e seis escolheram a designação de arte-educador como sendo o mais adequado. Consideramos um pouco inesperado haver um educador que responde não saber qual a definição apropriada, o que nos sugere de novo a importância da necessidade de debate sobre estas questões laborais. As coordenadoras seleccionaram a designação, a saber: Serralves [2] (Mediador ou artista-educador), Gulbenkian (Educador ou Mediador Cultural) e o Museu C. Berardo (Mediador). Nas longas conversas que tivemos sobre a actividade do técnico de serviços educativos, os colaboradores dos museus expressaram com preocupação aquilo que um deles designou em relação à profissão ser um “canivete suiço”, ou seja, cada vez mais, a função do educador passa por se desdobrarem em multifunções dentro do seu horário de trabalho que se estendem em serem investigador, gestor cultural, artista, professor, vigilante e às vezes muito pouco tempo para Ser pessoa.
Para Cardinet [3] (1993), o mediador é uma terceira pessoa que permite colocar questões, pôr problemas, num clima de respeito com certas regras de comunicação, e que pela sua capacidade de ouvir, pelas questões que coloca, vai permitir que aconteça uma resposta satisfatória para todos. Esta autora classifica o mediador como uma pessoa que permite o progresso da negociação no que diz respeito à expressão das vontades e à troca entre os agentes, permitindo a emergência de tomadas de decisão. Uma das características da mediação é ter propriedades de catalisador, ou seja, uma reacção despertada pela situação de mediação, mas da qual sai modificado o que foi negociado em conjunto presença do incentivador. A mediação não pode ocorrer sem que se tenha constituído uma comunicação através da emissão e da recepção de mensagens reveladoras do sentido dado à situação que se vive. As expectativas, a procura de soluções, os sentimentos que devem ser conduzidos por um objectivo comum. A mediação trata assim, da descoberta dos lugares possíveis onde se pode agir como mediador, não se coloca por isso ao mesmo nível da negociação. Enquanto a negociação procura a resolução de uma dificuldade, em que cada um se dispõe a perder um pouco do seu território, o papel do mediador é esperado como alguém que faça propostas que possibilitarão aproximar mais no estabelecimento de consentimento; é como um caminho, graças ao qual uma relação se estabelece tal como os parceiros a desejam.
Pela nossa experiência profissional na educação museal, no ensino formal e não formal, na investigação e curadoria, defendemos a designação “Educador Museal” que consideramos como a mais apropriada para a actividade dos profissionais dos serviços educativos (Oliveira, 2012). O museu está envolto num plano de actividades educativas, naturalmente diversas daquelas que se aprendem num espaço formal de ensino, mas que abordam todos os seus elementos: desde a direcção aos funcionários da limpeza, a atuação dos curadores, a equipa de montagem, desde a sinalética à narrativa expositiva, desde as brochuras à informação publicada no website. O educador é um comunicador por excelência, sendo a sua capacidade de participação um elemento fundamental na empatia e na motivação que cria no grupo que o escuta, mas também participa ativamente na construção do conhecimento. Os museus podem ser locais privilegiados de aprendizagem histórica, sobretudo porque ensinam os arbítrios que apontam a salvaguarda num determinado contexto, tendo os técnicos dos serviços educativos um trabalho primordial pelo seu papel muito próximo dos diferentes públicos (Oliveira, 2013). [4]
A aprendizagem histórica, artística, cultural nesses ambientes ricamente estruturados realiza-se tanto pela compreensão reflexiva dos sentidos da preservação, quanto pelas possibilidades sensíveis de encantamento, fruição e por vezes, horror. As aprendizagens da história não podem prescindir da percepção da cultura como uma rede factual, tecida como um acto (in)congruente e arbitrado, como discurso poético e político em que se insere a problemática da existência dos museus. No museu há uma polifonia de vozes, pois os objectos são narradores, bem como os visitantes, os profissionais do museu e o cenário do museu com o seu ambiente. Há ritmos, melodias, ênfases, exclamações, pausas numa visita. O silêncio pode ser provocado por dúvidas, descobertas, espanto, horror, aversão ou encanto. Em todos os casos ele pode ser educador. Uma educação pode ser mediada pelas trajectórias que o visitante produz mediado pelos registos de memória e pelas necessidades de investigação ou de fruição daquele momento. A exposição incorpora a elaboração do público, designando o museu pela imprevisibilidade. Esse diálogo entre museus e a diversidade do público é marcado pelo cruzamento dos diferentes significados da exposição. Neste papel de construção dos sentidos, o técnico de educação realiza um papel pedagógico ao “educar o olhar” remetendo-o para o debate, a intuição, a percepção, a desconstrução (Oliveira, 2012).
Reflexões finais
Educador Museal ou Mediador? Consideramos que esta discussão em Portugal se deveria aprofundar. Apesar de na última década ter havido uma maior aposta na formação e na reflexão sobre esta temática, as profundas alterações laborais dos últimos dois anos, bem como a crise económica que assola o país, criaram novas exigências de trabalho que vieram promover a mobilidade dos funcionários. A intenção sublinha que cada trabalhador trabalhe em diversas áreas dentro do museu, deixando a sua área de especialização. A flexibilidade, naturalmente só tem um único objectivo, o da rentabilização dos recursos económicos e humanos, preconizado pelo capitalismo desenfreado do mundo global. Carla Padró[5] (2003) revela que os departamentos de educação nos museus devem apostar numa organização sólida, com profissionais preparados em educação museal, nas colecções e com recursos suficientes. Perante o desígnio da mobilidade, os técnicos deixaram possivelmente de trabalhar na sua área de estudo e de investimento de formação de longa duração ao nível de licenciaturas, mestrados e doutoramentos.
O museu está envolto num plano educativo que aborda todos os seus elementos: desde a direcção aos funcionários da limpeza, desde a sinalética ao discurso expositivo, desde as brochuras à informação publicada no website. Ao levantarmos a discussão em torno de um conceito, mais de que a definição do mesmo queremos uma reflexão em torno da valorização da profissão. Deve haver espaço para o debate, pois isso significará que estaremos a caminhar para a afirmação e a procura da identidade da actividade do educador museal (Oliveira, 2012).
O museu, como um espaço instituído de produção e de informações, desenvolve uma prática social autorizada, partilhada e legítima (Moraes, 2006) [6]. O museu é parte do processo de organização do conhecimento e produção de um estilo de vida socialmente legítimo. Ao produzir e divulgar a informação, além de diferentes suportes e registos documentais, envolve-se numa decisão social que implica aspectos ideológicos e éticos, os quais exigem opções e estratégias de construção de verdades que em princípio deverão ser partilhadas pelo colectivo. O Museu é uma instância de poder, controle e de organização social. A democratização da arte depende da abertura do museu (e da escola) e da sua capacidade de se auto-recriar através de novos processos de comunicação. Não esqueçamos que aquilo que o museu mais quer publicitar e comunicar é o seu bem mais precioso: o seu acervo. Os museus são espaços de objectos, mas acima de tudo são espaços pensados por pessoas e “vivenciados” pelas pessoas.
Referências
  • CARDINET, J. Avaliar é Medir? Rio Tinto. Edições Asa. 1993.
  • FALK, J.H; L.D. Dierking. The Museum Experience. Washington, D.C.: Whalesback Books. 1992.
  • HEIN, George. Museums, Places of Learning. American Association of Museums. 1998.
  • MORAES, Nilson de. O que é Memória Social: Solidariedade Orgânica e Disputa de Sentidos” in Gondar, Jô.; Dodbei, Vera. (orgs). O que é memória Social. Rio de Janeiro. Contra Capa. 2006.
  • OLIVEIRA, Genoveva. «O museu como um instrumento de reflexão social », MIDAS[Online], 2 , posto online no dia 01 Abril 2013, consultado no dia 22 Maio 2013. URL :http://midas.revues.org/222 . 2013
  • OLIVEIRA, Genoveva. Museus e Escolas: os serviços educativos dos museus de arte moderna e contemporânea, um novo modo de comunicação e formação. Tese de Doutoramento. Universidade de Évora. 2012.
  • PADRÓ, Carla. La museología crítica como una forma de reflexionar sobre los museos como zonas de conflicto e intercambio in Jesús-Pedro Lorente et al. (orgs), Museologia Crítica y Arte Contemporaneo, Zaragoza: Prensas Universitárias de Zaragoza. 2003.
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[i] Genoveva Oliveira é licenciada em História e Ciências Sociais, Mestre em História Regional e Local (Vertente de História de Arte/Museologia) e é doutorada em História de Arte/Museologia. Revela a experiência de diversos anos de práticas artísticas que cruzam diferentes territórios como a educação em museus, a educação artística e a curadoria. Demonstra o conhecimento das diferentes práticas curatoriais resultante do trabalho e contacto com curadores, artistas e museólogos de quase quarenta países. Patenteia na sua prática de educação museal e curatorial um profundo interesse pela relação arte/comunidade que se interliga com as questões de género/teorias feministas/identidade.http://genovevaoliveira.wordpress.com/
[1] Oliveira, Genoveva. Museus e Escolas: os serviços educativos dos museus de arte moderna e contemporânea, um novo modo de comunicação e formação. Tese de Doutoramento. Universidade de Évora. 2012.

[2] A coordenação dos serviços educativos desta instituição já sofreu diversas alterações nos últimos três anos. No momento da pesquisa que realizamos a coordenadora era Sofia Vitorino.

[3] Cardinet, J. Avaliar é Medir? Rio Tinto. Edições Asa. 1993.

[4] Oliveira, Genoveva. «O museu como um instrumento de reflexão social », MIDAS[Online], 2 , posto online no dia 01 Abril 2013, consultado no dia 22 Maio 2013. URL : http://midas.revues.org/222 . 2013.

[5] Padró, Carla. La museología crítica como una forma de reflexionar sobre los museos como zonas de conflicto e intercambio in Jesús-Pedro Lorente et al. (orgs), Museologia Crítica y Arte Contemporaneo, Zaragoza: Prensas Universitárias de Zaragoza. 2003.

[6] Moraes, Nilson de. (2006). O que é Memória Social: Solidariedade Orgânica e Disputa de Sentidos” in Gondar, Jô.; Dodbei, Vera. (orgs). O que é memória Social. Rio de Janeiro. Contra Capa.

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Postado em: Quinta-feira, 08 de agosto de 2013 | 21:23 por Editoria RM
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